terça-feira, 2 de junho de 2015

E se fosse contigo? Por Christopher Goulart - Senador Suplente do RS - Neto do Presidente João Goulart


 Parto do princípio que em todas as temáticas complexas existem indagações intimistas que,muitas vezes, em razão da obviedade, tornam-se imperceptíveis. É uma conclusão ao interpretar as notícias da chegada ao Rio Grande do Sul dos imigrantes haitianos e senegaleses. Estamos vivendo num período de radicalizações. Pouco resta no caminho do equilíbrio e na conquista de resultados que contemplem a todos. Um mundo que se apequena no limitado espaço dos interesses individuais e lamentavelmente se distancia aos olhos dos valores humanitários.
Ocorre que, mesmo considerando as preocupações normais daqueles que visam prioridades para cidadãos nascidos em território nacional, tais argumentos tornam-se singelos se comparados à grandeza do ato de estender uma mão a quem precisa. Por outro lado, não há como tolerar qualquer forma de preconceito racial e social contra um ser humano em qualquer lugar do planeta.
Devemos lembrar, caso seja necessário, que os imigrantes haitianos e senegaleses chegam ao Brasil não por motivos turísticos, mas sim em razão de catástrofes naturais e situações de extrema gravidade que ameaçam suas vidas.  Os vistos humanitários concedidos pelo governo são outorgados após a comprovação de ausência de antecedentes criminais, com a garantia de trabalho com carteira assinada, além de acesso à saúde e educação.
Dificilmente nos colocamos em hipotéticas situações adversas, prática que pode cooperar para uma crítica construtiva de pensamento. Fechar os olhos para os dramas alheios, brasileiros, haitianos ou senegaleses, é imaginar que vivendo dentro de uma bolha estaremos exercendo a nossa autodefesa contra supostas ameaças que talvez sequer existam. Nossa contribuição é fugir dessa lógica perversa que gera sentimentos improdutivos. Privilegiados ou não dentro do nosso próprio contexto social, a negação de disponibilidade parece-me o pior dos caminhos a seguir.
O momento enseja uma conjunção de esforços, é bem verdade. As razões humanitárias necessárias restam fragilizadas se o Estado brasileiro não trabalhar de forma articulada para atender minimamente as necessidades dos imigrantes. Eis aí um dos desafios da questão, considerando a reiterada ausência de serviços eficazes oferecidos pelo poder público. O outro, é o pleno entendimento de que a indiferença é pecado que fere de morte a essência da humanidade.

Christopher Goulart

Senador Suplente (PDT RS)

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